Lagoa do Terto

11 de novembro de 2010

O discurso da montanha

                                         Por:Cardeal Geraldo Majella Agnelo 

    No primeiro domingo de novembro, celebramos a festa de todos os santos. Os filhos de Deus são chamados à santidade de vida aqui na terra e na vida eterna. O discurso da montanha, Mateus 5,13-16, se abre com as bem-aventuranças. Começa com os pobres no espírito. A mentalidade moderna, como a antiga, proclama a bem-aventurança da riqueza. Para compreender a bem-aventurança da pobreza, é necessário partir do Antigo Testamento e da tendência interna do judaísmo, na qual a palavra “ani”= pobre ou “anawin”= pobres, além de sua dimensão sociológica, possui uma dimensão religioso-teológica. Pobre é o homem honesto, piedoso, praticante da justiça, que vive sob o jugo do rico, do influente e do opressor. Quem vive honestamente, praticando a justiça e permanecendo aberto a Deus, será recompensado por ele. A injustiça e a desonestidade, em todos os seus aspectos, são incompatíveis com a integridade requerida por Deus. Por isso, se fala de espírito de pobreza e dos pobres na alma. A frase era freqüente nos tempos de Jesus, como fizeram ver as descobertas de Qumran. A pobreza sociológica não é proclamada bem-aventurada por si mesma. Considerada em si mesma e como tal, ela seria um verdadeiro mal. A pobreza que é chamada bem-aventurada deve ser acompanhada pela simplicidade do coração, da convicção profunda da necessidade que o homem tem de Deus, da integridade da vida e da abertura aos outros. Não é fácil encontrar um adjetivo que exprima realmente os que são chamados bem-aventurados, os mansos. A única coisa que podemos dizer é que se trata de uma atitude muito vizinha da primeira bem-aventurança. A palavra “mansos” tem o sentido de humildes, pobres, necessitados, pequenos, que aceitam sem amargura a sua humilde condição, naturalmente com a esperança da recompensa. A herança da terra é uma expressão equivalente a receber o reino dos céus. O prêmio não é visto como coisa exclusiva do lado de lá da vida: tem-se conta também do mundo presente que pode ser feito melhor com o esforço do homem. A vida de Jesus é uma ilustração prática dessa bem-aventurança: Ele lutou contra a enfermidade, a fome e a dor, e ao mesmo tempo caminhou com segurança para a ressurreição. A bem-aventurança dos aflitos deve ser compreendida partindo do prêmio que a justifica: a consolação. A consolação é uma realidade messiânica, trazida pelo Messias, e abraça toda a dor pela qual o homem tem necessidade de ser consolado: o poder da morte, do sofrimento, do pecado, utilizando a linguagem bíblica. A bem-aventurança se ilumina na vitória de Jesus sobre o pecado, sobre a dor, sobre a morte e particularmente no momento da ressurreição. O Deus da Bíblia é o Deus da consolação. Os que têm fome e sede de justiça, mais que uma atitude, aqui é chamada bem aventurada a tendência para desejar receber alguma coisa. A fome e sede, na Bíblia, Isaias 55,1: Salmo 42,20, indicam a tendência para Deus e a saudade dele. Homens que procuram a justiça, Deus a concederá aos que agora são oprimidos pela injustiça. A recompensa não é esperada somente para o momento do juízo final. A fome e a sede de justiça gritam para que cesse a atual injustiça. A esperança se vê satisfeita unicamente na aparição do Messias, que é chamado “Javé-nossa-justiça” (Jeremias 23, 6; 33,16). Os misericordiosos. Diante de Deus, ninguém tem consistência por si mesmo. Sabiam também os contemporâneos de Jesus: se alguém não pratica a misericórdia, Deus não usará misericórdia com ele. O Pai nosso nos ensina a perdoar como somos perdoados. Os misericordiosos são bem-aventurados pelo fato que a sua conduta está sobre a mesma linha da conduta de Deus: amor, compaixão, perdão, compreensão, ajuda. Os puros de coração. Deus está aberto a quem tem as mãos e o coração puros, uma pureza de vida, sem intenções distorcidas e inconfessáveis. Os que trabalham pela paz entre os homens agem como Deus mesmo, porque Deus é o Deus da paz, que oferece a reconciliação ao pecador. Os perseguidos por causa da justiça: a sorte que tocou ao Mestre toca também a seus discípulos, em todos os tempos. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus abrem o discurso sobre o Reino

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